De um lado, milhares de frotistas e motoristas de caminhões, ônibus, jipes, SUVs, geradores e máquinas agrícolas com seus motores entupidos. Do outro, poderosos produtores de biodiesel capazes de tudo para garantir um faturamento cada vez mais consistente. Essa é a guerra desigual travada hoje no Brasil onde o critério técnico dá lugar às pressões políticas.
Comprovação cabal deste escândalo prejudicial aos usuários de motores diesel foram os dois pronunciamentos contraditórios do senador Ireneu Orth (PP-RS). Numa audiência pública do PL do Combustivel do Futuro, ele foi claro ao afirmar que, quando se aumentou o percentual do biodiesel, os motores “explodiram”. Foi literalmente assim que ele se expressou. Vejam:
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Entretanto, falando sobre o mesmo assunto num vídeo postado pela Frente Parlamentar do Biodiesel, ele mudou a conversa e, acreditem, disse que o Diesel B14 não provoca nenhum problema nos motores. Novamente o Senador Ireneu Orth:
Por que a discussão? Porque um percentual de 7% de biodiesel é adotado em quase todo o mundo para reduzir a poluição mas evitando problemas técnicos. Admite-se elevá-lo ao patamar de 10% sem prejuízo dos motores. Há algumas exceções pelo mundo em países com a frota bastante obsoleta que permite o biodiesel chegar a 30%. Ou em algumas regiões onde não se registram temperaturas muito baixas.
No Brasil, o governo federal se curva diante das exigências dos produtores de biodiesel para aumentar continuamente a proporção do produto, atualmente em 14% e com previsão de atingir 20% em 2030. O Ministério das Minas e Energia cede à pressão política e a ANP avaliza o absurdo.
O Biodiesel deve mesmo ser prestigiado pois é limpo, não derivado do petróleo, contribui para a descarbonização e o desenvolvimento agrícola. Mas, empunhando esta bandeira do meio ambiente, seus produtores defendem despudoradamente sua inclusão crescente nos tanques dos veículos diesel. E não hesitam em atacar os que ousam criticar o teor mais elevado que entope os motores. Ou, “explode”, como disse o Senador Ireneu.
Frotistas são unânimes em criticar biodiesel
Basta consultar frotistas de ônibus e caminhões e a própria CNT, a Confederação Nacional de Transportes com cerca de 200 mil associados; são todos unânimes em criticar os percentuais mais elevados do biodiesel, pois como ele é higroscópico, absorve umidade que vira água e faz o diesel decantar no fundo do tanque em forma de borra.
Uma verdadeira graxa que vai entupindo o que encontra pela frente no sistema de combustível do motor. Provoca aumento do consumo, motores entupidos ou quebrados, ônibus voltando rebocados para as garages e despesas gigantescas com filtros, aditivos e retíficas.
Constatei estes problemas pessoalmente em uma matéria que fiz na Sambaiba Transportes, um grande frotista de São Paulo. Ouvi agora, na China, de um executivo de uma grande fábrica local, estar cancelando o projeto para fabricar aqui uma picape diesel devido a estes problemas.
Os produtores do biodiesel lançam mão de quaisquer argumentos para defende-lo. Que motores especialmente projetados rodam com até 100% de biodiesel – o que só é possível em condições muito especiais, desde que aditivado e transportado imediatamente para o tanque.
Aliás, o “X” da questão é o tempo de estocagem: se demorar alguns dias até o abastecimento, a borra é certa. E mais, em regiões de muito baixas temperaturas como o sul do Brasil, o biodiesel se cristaliza e complica ainda mais a operação. O problema deste combustível é ser obtido por um processo barato e antigo, da transesterificação, que provoca todas estas distorções. Nenhum problema, desde que garantido o faturamento crescente de seus produtores.
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