Foi em um domingo, 1º de maio de 1994, nosso ídolo tricampeão de Fórmula 1 Ayrton Senna disputava o GP de San Marino da categoria, no autódromo de Ímola. Apesar de ter cravado a pole de número 65, o fim de semana não era dos mais auspiciosos: no treino de sexta-feira, o então novato piloto brasileiro Rubens Barrichello sofrera um grave acidente, que chegou até mesmo capotar o seu carro. No treino classificatório do sábado, o piloto austríaco Roland Ratzenberger bateu forte e morreu dentro do carro, antes mesmo de receber atendimento.
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Esses dois fatos já haviam feito do GP de San Marino uma corrida tenebrosa. Mas o mundo não sabia que outra tragédia estava por acontecer. Depois de uma largada confusa, a corrida passou a transcorrer aparentemente dentro da normalidade. Senna, com sua Williams FW16 azul, disparava na ponta, seguido por Michael Schumacher e o restante do pelotão. Ao que tudo indicava, seria 42ª vitória de Senna. Mas o destino não quis assim.
Remendo na Williams
Para quem pensa que na Fórmula 1 não existem remendos, um engano. Nos treinos livres do GP do Brasil, em 27 de março de 1994, Senna reclamou para a equipe que o volante do seu carro poderia ficar um pouco mais perto dele, fato que facilitaria sua pilotagem e adaptação às características do seu novo FW16. A equipe Williams então serrou a barra de direção e adaptou no trecho cortado uma luva metálica de alguns centímetros, permitindo dessa forma que o volante chegasse mais perto do piloto.
A fixação da luva na barra foi feita com solda, uma adaptação precária que deveria ser substituída por uma nova barra de direção com o comprimento que adaptasse o volante à posição do Ayrton de pilotar.
Fadiga da barra de direção
Mas, infelizmente, o provisório criado para o GP do Brasil acabou se transformando em permanente. O que os engenheiros da equipe inglesa não previram é que aquela solda se romperia por fadiga, gerada pelos impactos que a barra de direção recebe por conta das imperfeições da pista e pelos próprios esforços que ela sofre em curvas ou movimentos bruscos.
Essa fadiga causou assim a desconexão do volante com a caixa de direção, mesmo tratando-se de um então moderno sistema hidráulico. Já nos treinos, Ayrton reclamava de uma pequena vibração no volante, que, Frank Williams, dono da equipe, pensou ser dos pneus Goodyear.
Depois de uma reunião com o responsável pelo fabricante de pneus, a hipótese de a origem da vibração ser nos pneus foi descartada. Ninguém lembrou da tal solda na barra de direção, que já estava se rompendo. Momentos antes do acidente, basicamente, o nosso campeão virava o volante para tentar fazer a curva e o carro continuava em linha reta, pois a caixa de direção não recebia o comando do volante. Literalmente, Ayrton perdeu o controle do carro na curva Tamborello, feita a cerca de 308 km/h.
O acidente de Senna
Mesmo freando a reduzindo marchas, Ayrton Senna passou de piloto à passageiro do seu FW16. O impacto diretamente contra o muro foi violento, a cerca de 211 km/h, e o Williams foi completamente destruído. De tão forte a batida, o carro chegou a ser arremessado novamente em direção a pista. Um braço da sua suspensão furou o capacete de Senna, atingindo o piloto logo acima do supercílio e perfurando sua cabeça em mais ou menos 2 cm. A morte foi quase que instantânea, uma tragédia! O Brasil perdia um de seus maiores ídolos esportivos.
Um exemplo de obstinação, de atleta, de dedicação, de paixão pelo esporte, de honradez e seriedade. Um esportista que, como poucos, foi visto pela população brasileira. Tanto que no seu funeral houve uma comoção nacional e o país parou para render suas últimas homenagens a esse grande brasileiro.
Carreira de Senna
Ayrton Senna começou na Fórmula 1 em 1984, correndo pela equipe Toleman. Era um carro pouco competitivo, mais que Ayrton sempre colocava entre os oito primeiros. As equipes grandes perceberam o talento do brasileiro e em 1985 ele já pilotava um Lotus, carro com o qual garantia a sua primeira vitória, ocorrida em um GP de Portugal marcado por uma chuva torrencial. Depois foi pilotar para a McLaren, onde em 1988 garantia o seu primeiro campeonato mundial. Já em 1990, ainda pela equipe inglesa, veio o segundo título, seguido no ano seguinte pelo tricampeonato.
É importante lembrar que o trio Senna/McLaren/Honda se mostrou sempre imbatível: O brasileiro fazendo milagres atrás do volante; a McLaren desenvolvendo chassi, suspensão e aerodinâmica apuradíssimas; e a Honda criando altas tecnologias em motores classificados como geniais. Tanto que o nome de Ayrton Senna é venerado com respeito até hoje no Japão pelos entusiastas da Fórmula 1.
Senna e Audi
Outros projetos povoavam a mente de Senna. Em 1994, depois de firmar um contrato com a Audi na Alemanha, nosso campeão seria representante da marca no Brasil. Não houve tempo para que esse acordo se concretizasse, pois Ayrton partiu de nosso convívio ainda no início desse episódio. Mas a Audi no Brasil foi levada adiante por sua família.
Nessa época, eu trabalhava na revista Quatro Rodas, que fez uma grande matéria com Ayrton mostrando os Audi que chegariam ao nosso mercado. Meu colega de redação e amigo, Eduardo Pincigher, foi convocado a fazer a reportagem e andar com Ayrton na pista de Interlagos. E então Senna fez uma revelação interessante: “apesar de já ter ganho corrida de Fórmula 1 aqui em Interlagos, nunca andei com carros normais, de rua, nessa pista. Essa será minha primeira vez”.
Eduardo contou que o campeão se divertiu com o Audi S4 e depois quis matar uma curiosidade: “como será andar na contramão? muda muito?”. Ayrton virou o carro e fez uma volta pelo circuito completo andando na contramão, percebendo, admirado, que Interlagos se transformava em outra pista quando percorrida no sentido inverso. Nosso tricampeão morreu fazendo o que mais gostava na vida: em um circuito veloz, em sexta marcha, pé embaixo e liderando a corrida. Coisas de um supercampeão.
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